Para jornalistas Um guia brevíssimo de como não cair em pegadinhas

Bocado

Ciência é a soma de conhecimentos: nenhuma evidência científica pode ser tomada isoladamente. Nenhuma cura surge da noite para o dia. Nenhum alimento é capaz de realizar milagres.

Na hora de ler um artigo científico, fique atento a:

a.
O estudo faz perguntas muito específicas? Esse pode ser um indicador de uma pesquisa que foi direcionada para produzir os resultados esperados pelo financiador.

Seja cauteloso sempre que vir um artigo informando que um único nutriente, bebida, suplemento, produto alimentício ou ingrediente causa ou reduz o risco de obesidade, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 ou câncer.

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Por exemplo, o estudo acima afirma: “Mulheres na pós-menopausa que comeram meia xícara de manga Ataulfo [também conhecida, entre outros nomes, como manga mel e manga amarela] quatro vezes por semana viram uma redução de 23% nas rugas profundas após dois meses e uma redução de 20% após quatro meses”.

A mesma pesquisa informa, em outro ponto, o seu financiamento: “Esse estudo foi financiado parcialmente por uma bolsa do National Mango Board (NMB)… que também forneceu as mangas frescas para o estudo. O BNM não teve nenhum papel no desenho do estudo, na coleta de dados, na análise de dados, na preparação do texto ou na decisão de publicação.”

b.
Estudos financiados por instituições públicas costumam fazer perguntas mais abertas, o que é bom do ponto de vista científico. Perguntas muito fechadas podem transformar a ciência em marketing.

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Por exemplo:
“Objetivo: examinar a relação entre consumir ou evitar comer carne e a saúde psicológica e o bem-estar. Conclusão: Nosso estudo não apoia que seja evitado o consumo de carne como uma estratégia para beneficiar a saúde psicológica”

c.
O número de participantes é muito reduzido? Esse expediente é muito utilizado por estudos caça-clique. Um número reduzido de participantes não apenas diminui a relevância da pesquisa, como facilita a distorção dos resultados para apresentar números que parecem mais grandiosos do que realmente são.

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Por exemplo:
“Doze homens treinados realizaram exercícios de resistência à noite antes de consumir 25 g de proteína whey (PRO; MuscleTech 100% Whey) ou um placebo energético equivalente (CHO) imediatamente após o exercício (0 h) e, novamente, na manhã seguinte (aproximadamente 10 horas de recuperação).”

d.
Muitas revistas científicas pedem que sejam identificados os financiadores dos estudos. Essa informação tem de aparecer nos campos “Funding”, “Acknowledgments” ou “Conflicts of interest”.

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Esse tipo de informação deve aparecer assim: “Divulgações de dados financeiros. O autor recebeu uma bolsa da Nestlé Australia Ltd. para conduzir essa pesquisa. O patrocinador não teve nenhuma função no projeto, desempenho ou aprovação do trabalho.”

Porém, nem todos os pesquisadores respeitam esse tipo de declaração. Então, é importante checar artigos anteriores em busca de informações e o currículo acadêmico.

e.
A qualidade da publicação é algo a tomar em conta.

Um indicador inicial de qualidade é ver a que bases de dados as revistas estão indexadas. Entre profissionais de saúde, PubMed é uma boa referência.

f.
O tempo de publicação também é importante.

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Os artigos informam a data em que foram submetidos, quando passaram por revisão e quando foram publicados. Intervalos muito rápidos entre submissão e publicação podem ser um indicador de que nem todos os cuidados foram tomados.

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