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Lobos à solta

Mauro Fernandez Argentina
Publicado em 10 de junho de 2021

A água entrou em Wall Street e se tornou um passe mágico, que permite aos especuladores ter privilégios, como exigir geleiras em troca da venda de vacinas, negociar o preço que o recurso deveria ter para não perdê-lo, isso a poucos minutos de bairros que nunca tiveram acesso a água potável. Quem se esconde por trás da mais recente investida na bolsa? O que significa a privatização desse direito básico? Por que as empresas que vendem água se apresentam como a vanguarda sensível e generosa por doar esse recurso?

 

Na sua mansão no norte de Nova York, Laurence Fink, um dos trinta homens mais poderosos do planeta, acordou com sede. Era 2 de novembro e ele estava fazendo 66 anos. Ainda não havia pandemia. Ele levantou da cama às cinco da manhã e não bebeu nada. Com a garganta ressecada, apertou o nariz contra a janela da sala de estar, olhando para o parque de quatro hectares. Depois de vinte segundos imóvel, engoliu saliva. As melhores ideias da sua vida tinham sido fruto de intuições. Ninguém saberia dizer como foi gestada a mais recente ofensiva sobre a água, mas Larry se lembraria para sempre essa manhã com sede. 

Agora Fink tem 68 anos, é alto e magro, tem uma calvície profunda e usa óculos sem armação. O seu pai era sapateiro, e a sua mãe, professora de inglês. Ele nasceu em Los Angeles e estudou Ciências Políticas na Universidade da Califórnia, onde se uniu à fraternidade universitária Kappa Beta Phi. Quatorze anos depois de se formar, fundou e se tornou o número um da BlackRock, hoje o maior fundo de investimentos do mundo. Em 2020, a BlackRock geriu fundos no valor de 8,7 trilhões de dólares, uma riqueza suficiente para se posicionar como a terceira potência econômica do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O fundo é coproprietário de mais de 17 mil empresas, como as principais farmacêuticas (Pfizer), alimentícias (Bayer-Monsanto e Coca-Cola), petroleiras (Exxon Mobile) e tecnológicas (Apple e AOL), entre outras. É o covil sempre agitado dos melhores lobos de Wall Street: uma manada da qual Larry é o macho alfa.

Ainda que Fink leve a sério suas intuições, sempre se apoia em dados e projeções. Há anos conhece os relatórios sobre as escassez de água no mundo, acelerada pelo derretimento das geleiras, a contaminação, e o uso intensivo, em particular no setor agrícola (72% do consumo global ocorre desse modo, de acordo com a ONU), municípios e indústrias. Segundo o World Resources Institute, nos últimos cinquenta anos, a demanda doméstica, para uso pessoal nas casas, aumentou em mais de 600%. Mas a ONU estima que ainda mais de 2.2 bilhões de pessoas (quase um terço da população mundial) não têm acesso assegurado à água potável, e 3 bilhões não conseguem nem lavar as mãos com água e sabão. Para os apostadores como Fink, gerir e aumentar artificialmente a escassez é uma excelente oportunidade de negócio.

A BlackRock avançou no seu projeto por diferentes frentes. Em julho de 2020, publicou o relatório Troubled Waters (águas turbulentas), no qual alertou que o estresse hídrico –maior demanda que disponibilidade do recurso– produziria graves riscos financeiros nas próximas décadas. Mencionou especialmente os riscos para o setor imobiliário, o agrícola e a geração elétrica. Além disso, vinculou esse cenário com as secas e as inundações, produto da crise climática. Reconheceu o contexto e tomou impulso. 

Meses mais tarde, em dezembro de 2020, a água começou a ser cotada na bolsa de Wall Street, esse covil de Fink e outros papas da economia de mercado global. Se trata, neste momento, de preços futuros para o comércio da água das bacias da Califórnia para o mercado agrícola. Mas também é o que parece: o mecanismo técnico necessário para abrir formalmente o caminho para a comoditização da água.

Nos últimos dias, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, reconheceu que “durante anos e gerações, guerras foram travadas pelo petróleo; em breve, guerras serão travadas pela água”. Para defender o recurso, Harris a catalogou como uma “commodity preciosa”. Apresenta, dessa forma, um cenário no qual ou a água nos levará a uma guerra formal e aberta ou a uma guerra mais abstrata, mas igualmente sangrenta, que resulta de incorporar a água, com um valor quantificável, competitivo e comerciável, ao reino do capitalismo. O que a vice-presidente propõe é que, se queremos evitar que arrebatem nossa água pela força das armas, devemos aceitar –e abraçar– sua valorização econômica.

Em 2020, Fink mostrou o seu primeiro modelo de ataque. Como coproprietário da farmacêutica americana Pfizer, dona de uma das vacinas comercializadas para combater a COVID-19, exigiu que os países que queriam comprar a droga dessem seus ativos soberanos como garantia para responder a eventuais processos futuros. O caso foi revelado por uma investigação jornalística do Bureau of Investigative Journalism e ecoado na Argentina por Jorge Rachid, assessor do governo da Província de Buenos Aires. Ele declarou que a Pfizer exigiu da Argentina a sanção de uma lei que eventualmente permitisse embargar as geleiras andinas. Se alguma coisa desse errado com a vacina, a Argentina responderia com suas geleiras, nada menos que as suas reservas de água. O país, até agora, rejeitou as condições.

Cordeiros amarrados?

Cordilheira dos Andes. Centro-oeste da Argentina. Departamento de Las Heras, Provincia de Mendoza. Ali fica a Reserva Turística Villavicencio. Um paraíso verde entre os altos cumes, a quase dois mil metros acima do nível do mar, coroada por uma construção branca de estilo andino. O Hotel Villavicencio tem quatro andares e tetos de telhas vermelhas. A reserva possui 8% da superfície total do departamento. O domínio desses 72 mil hectares que incluem o manancial, três ecossistemas diferentes, 240 espécies de fauna e 200 espécies de flora é privado. Desde o ano 2000, é administrado pela companhia multinacional Danone. O acesso é pago (hoje custa US$ 2) e parte das reservas de água são usadas pela companhia em garrafas, que recebem um rótulo com a imagem do hotel e depois são vendidas a US$1 o litro.

Longe da figura clássica do vilão de filme que acompanha as corporações de agrotóxicos, fósseis ou mega mineradoras, as que vendem água, como se fossem anjos da indústria alimentar, avançam com rosto humano e proximidade com as comunidades. São a vanguarda sensível dessa investida sobre o bem estratégico do século XXI.

Segundo dados de 2018, só três corporações controlam 85% do mercado da água na Argentina: Danone, Nestlé e Coca-Cola. E quem se esconde por trás das três? Os lobos. Dez por cento da Coca-Cola (Coke Inc.) é controlada pela BlackRock. No caso da Danone, ainda que o principal fundo de investimento seja outro, O Massachusetts Financial Services, a BlackRock controla mais de 5%. E, na Nestlé, nenhum acionista tem mais que 3% da companhia, exceto a BlackRock. Esses gigantes financeiros lançam seus investimentos em toda grande empresa global. Mas é crítico entender o critério que aplicam sobre a água e sua comoditização, assim como identificar os ganhadores e perdedores desta ideia que, com a chegada da terceira década do século XXI, deixa de ser uma ameaça latente para se transformar em realidade.

A intenção é escamoteada com publicidade. A Coca-Cola propõe que você ‘sinta o sabor’. Nestlé fala de ‘boa comida’, ‘boa vida’. Danone vai além: ‘um planeta, uma saúde’, dizem, em um registro épico. Os sites das principais engarrafadoras estão inundados de notícias sobre sustentabilidade, meio ambiente, bem-estar e reciclagem. Parecem sites de uma ONG, quando o seu core business é engarrafar um direito. Toda a estratégia de marketing está disfarçada de responsabilidade social, uma estratégia que busca vestir o lobo em pele do cordeiro.

A Coca-Cola, por exemplo, fechou um acordo com o governo do estado de Salta, no norte da Argentina, que levaria água potável à região. Em princípio, com um teste piloto que vai levar vinte –sim, vinte– filtros familiares para comunidades originárias dos departamentos de Rivadavia e San Martin. Não importa que para fabricar um litro de Coca-Cola sejam utilizados setenta litros de água, sem contar a quantidade utilizada para o engarrafamento e o adoçante. A caridade mata a realidade. Apesar de ter um papel-chave no setor de água engarrafada através da Bonaqua e Kin, o foco da empresa norte-americana continua sendo o seu refresco líder. E a sua estratégia comercial não consegue se desprender do impacto que produz, ao contrário da francesa Danone, que tem mais sucesso.

Desde divulgar os lácteos como promotores de saúde, até a gestão da água, a Danone não só procura se parecer com uma ONG mas, também, as financia. Dessa forma, como parte do programa SedCero (Sede Zero), que integra junto ao Rotary Club, a empresa de marketing sustentável Diamonds, o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) e organizações sociais, a empresa lançou em 2018 (e na casa do governo da Argentina, a Casa Rosada) a Plataforma da Água. Esta ferramenta busca, segundo o website, facilitar processos de “desenvolvimento inclusivo e sustentável”. Nesse espaço, no último Dia Mundial da Água, celebrado no dia 22 de março, Danone, SedCero, Avina e a Universidade Nacional de Quilmes assinaram um convênio com o Conselho Nacional de Coordenação de Políticas Sociais, ligado ao Chefe de Gabinete da Nação Argentina. O documento com a carta de intenções não foi divulgado publicamente nem se conhece qualquer progresso posterior. Mas fontes do Governo e das organizações participantes asseguram que a colaboração entregaria, ao Conselho Nacional, informações sobre vulnerabilidade no acesso à água geradas pela plataforma, financiada pela principal engarrafadora do país. É como se a Danone fosse não uma empresa privada, que está extraindo e comercializando o que é escasso nesse segmento da população, mas um executor de políticas públicas que busca resolver o problema.

Se algo desse errado com a vacina, a Argentina responderia com seus corpos de gelo, nada menos do que suas reservas de água. Foto: Mitja Kobal. Greenpeace

Os dados de escassez de água na Argentina são alarmantes. Segundo o INDEC, 5,3 milhões de pessoas não têm acesso à água potável nas suas residências e mais de 13% dos argentinos não têm acesso permanente a esse recurso vital. Nas áreas rurais, como em Gran Chaco, no norte da Argentina –onde está centrada  a atividade de SedCero–, a situação se agrava, e a escassez hídrica chega a 41% das residências. A inexistência de uma lei nacional para regular a água aumenta a complexidade da abordagem, impossibilita o acesso a dados reais e deixa a gestão nas mãos de parcerias com agentes privados, que se beneficiam com a venda do recurso que deveriam garantir.

O Conselho Nacional é um espaço de articulação entre diferentes áreas do Estado que busca otimizar os recursos em relação às comunidades mais vulneráveis. A sua presidente, Victória Tolosa Paz, não considera que o papel do setor privado na gestão desses dados desperte qualquer suspeita. Pelo contrário: acredita que os dados têm que ser buscados ali onde estiverem, para poder cruzar a informação existente com mapas de vulnerabilidade e acesso à água e levar soluções urgentes aos que mais precisam do recurso. “Sem dados não é possível tomar decisões”, diz ela para o Bocado. Também assegura que “não existe nem vai existir nenhum cruzamento de dados do Estado com o setor privado”. Mas o convênio continua não sendo acessível ao público, e as perguntas se acumulam sem respostas. Principalmente uma: o que a Danone está ganhando ao se envolver financeira e publicamente com esta iniciativa?

Para esta investigação, tentamos por semanas falar com a empresa, mas não conseguimos nada além de uma promessa de resposta futura, o comunicado oficial sobre o acordo com o Conselho Nacional e uma frase muito sugestiva: “sabemos que já falaram com as outras organizações”. Parece que a comunicação nos bastidores flui com uma velocidade muito maior que o acesso à informação pública sobre a água que engarrafam, vendem, gerenciam e distribuem, agora em conjunto com um organismo ligado ao Poder Executivo.

Os dados de escassez de água na Argentina são alarmantes. Segundo o INDEC, 5,3 milhões de pessoas não têm acesso à água potável nas residências e mais de 13% não têm acesso permanente a esse recurso vital

Buscando respostas, encontramos uma declaração do ex-diretor financeiro da Danone Argentina entre 2007 e 2010, François-Xavier Lacroix, agora à frente da Danone Espanha. Numa entrevista com ElEconomista.es, Lacroix reconheceu que “a água encanada não é concorrente [do seu negócio], mas dar água grátis pode ser contraproducente”. Seu raciocínio é o seguinte: “É necessário dar um trato adequado à água, porque se ela for vista como algo gratuito, sem interesse nem sofisticação, toda a categoria água cai, e dá mais espaço para produtos que podem oferecer uma experiência de consumo mais atraente, mas que são menos saudáveis”. Se examinarmos um pouco mais, podemos ver que não é um caso isolado no setor. Tempo atrás, Peter Brabeck-Letmathe, CEO da Nestlé entre 1997 e 2008, seguiu essa mesma linha: “A posição de que todo ser humano deve ter direito à água é extrema […] Pessoalmente acho que o melhor é dar à água um valor de mercado para que todos sejam conscientes de que ela tem um preço”. 

A doutora Ana Torlaschi preside o Comitê de Saúde e Ambiente da Associação Médica Argentina e se especializou no mercado da água engarrafada e o acesso à água segura. Torlaschi acredita que “as empresas privadas têm a capacidade de ver um negócio onde deveria haver um direito e se aproveitam do vácuo deixado pelo Estado”. Ela diz que “os governos deveriam prover água segura à população porque o acesso à água é um direito humano do mesmo jeito que o direito ao ar” e não tem dúvidas em considerar que “a água vai ser o ouro do futuro”. Quando perguntei sobre o acordo entre o Estado e a Danone, Torlaschi se pergunta acerca dos dados que ocultam e revelam: “quem tem informação tem controle, porque da informação que se tem, se mostra o que se quer”.

A estepe

La Veredita é um bairro formado por um corredor comprido de casas baixas no qual estima-se que morem cento e quarenta famílias. Está localizado no sudoeste da cidade de Buenos Aires, a duas quadras do estádio do San Lorenzo, time do Papa Francisco. Algumas dessas casas não têm as quatro paredes de alvenaria, que são substituídas por plásticos e cobertores pendurados. Durante quatorze anos, o bairro não teve água. Nem ao menos é um dos 57 bairros de emergência listados na cidade (nos quais moram 73.000 famílias): o Governo da Cidade de Buenos Aires não reconhece La Veredita, impedindo que seus moradores tenham direitos básicos como o acesso à água. Desde a primeira ocupação dos terrenos, foram vários os conflitos entre vizinhos para tentar obter o recurso que já estava disponível no bairro vizinho, Los Pinos, e na Federação de Associações Bolivianas, que fica do outro lado da rua.

Laura tem menos de quarenta anos, mora com o marido, dois filhos e uma neta pequena. Tem cabelo escuro, uma mecha violeta e usa uma máscara protetora preta com o logo da Nike. Tem olhos pretos e um olhar profundo. Laura gerencia há três anos o refeitório comunitário de La Veredita, onde serve a comida que prepara junto com outras duas mulheres para cerca de setenta famílias. “Eu procuro a solução e vou pra cima”, diz Laura quando pergunto pela água. Ela conta que há alguns anos, o Governo da Cidade de Buenos Aires colocou dois tanques de água em cada esquina. Mantê-los funcionando é uma tarefa que obriga os moradores a ficarem atentos: precisam ligar quando a água está acabando. A distribuição para cada casa fica a cargo dos próprios moradores por meio de baldes.

“Quando você coloca essa água num balde, em cinco minutos fica amarelada”, relata Laura. “Tivemos casos de crianças com furúnculos, diarréia… tudo por causa da água”. O governo não reconhece o problema, mas sabe dele. Por isso, para podermos beber, a cada quinze dias entregam a cada família quatro garrafões de cinco litros de água mineral (na verdade é água de torneira, mas engarrafada), comercializada pela empresa Akua S.A. com a marca Freezy. Isso significa pouco mais de um litro d’água diária para cada família. A família padrão no bairro tem seis ou sete integrantes, no mínimo. Laura recebe no refeitório comunitário famílias de nove e até doze pessoas. O que o Governo entrega os deixa doentes e não é suficiente. O bairro está cheio de crianças que correm e brincam entre pilhas de garrafões de água vazios.

A pandemia agravou vários problemas que já existiam. “Falam que a gente tem que ficar isolado em casa por causa da pandemia, mas como você pode fazer isso se não tem água nem para lavar as mãos?” Entre a sede e a doença, Laura foi pra cima. Vários moradores do bairro se tornaram engenheiros hidráulicos assistindo tutoriais no YouTube. Em novembro de 2020, procuraram um cano de água corrente, cortaram, selaram e fizeram uma canalização. Com o apoio de uma paróquia próxima, arranjaram uma tuneladora e passaram os canos por baixo do asfalto. Levaram a água até os tanques do Governo e se organizaram para dividir as despesas a cada quatro moradores, para comprar canos menores e levar água para as casas. Não cobre todo o bairro, mas metade já tem a sua torneira. Aqueles que ainda não tem, usam as torneiras populares para encher baldes com água mais segura que aquela entregue pelo governo e sem medo de que ela acabe. Dessa forma passaram a primeira onda da COVID-19, se organizando para melhorar a higiene básica e desfrutando do primeiro verão em que as crianças passam os dias quentes  se refrescando em uma piscina de lona.

Esta situação não é uma exceção. De acordo com o Observatório de Villas de La Poderosa, página que reúne ativistas de favelas, 75% das assembleias participantes têm conexões de água informais, 55% não possuem tanques de armazenamento de água e 25% têm apenas uma torneira por casa. Uma de cada cinco não tem uma gota de água. Quando aproximadamente 40% dos moradores de favelas têm menos de 15 anos, e 7 de cada dez têm menos de 30 anos, o ataque é contra o futuro. Laura e seus filhos não têm alternativa: “Não é a solução correta, mas vamos tapando buracos, mais do que isso não conseguimos fazer”

As farmacêuticas que pedem geleiras como garantia, os fundos de investimento que especulam com o preço da água em Wall Street, ou as multinacionais que ocupam grandes reservas naturais para engarrafar um bem público estão muito longe dessas realidades. A cotação da bolsa nos Estados Unidos é irrelevante na realidade cotidiana de moradores de bairros populares. As verdadeiras guerras pela água já estão sendo travadas ali. A privatização do bem comum, a ausência da gestão estatal e a profunda desigualdade social são parte dessa investida dos lobos e daqueles que vestem peles de cordeiros enquanto escurecem o futuro das crianças latino-americanas.