Como uma pesquisa científica vira hábito de consumo

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1.
Encomende uma pesquisa científica com perguntas bem direcionadas: quanto mais específica, maior a chance de sucesso

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Pergunta do estudo

Objetivos: Caracterizar os padrões de café da manhã, verificar a prevalência e os fatores associados à omissão desta refeição, bem como a participação relativa na ingestão calórica total e de nutrientes entre adolescentes.

Conclusão do estudo:

Os resultados revelam elevada prevalência de omissão do café da manhã pela população estudada, principalmente entre as mulheres […] conclui-se que há necessidade de estratégias para incentivar tanto o consumo regular do café da manhã como também a seleção de alimentos saudáveis para essa refeição, visando, dessa forma, a promoção da saúde.

2.
Convença jornalistas e comunicadores. Como a pesquisa foi bem direcionada e irá produzir resultados bons para a criação de hábitos de consumo

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a. Crie o problema

O estudo avaliou a percepção de 300 profissionais da educação sobre os hábitos alimentares dos alunos. Os resultados mostraram que a maioria dos entrevistados (64%) percebe que os estudantes não tomam café da manhã. Os principais indícios apontados são a desatenção e a dificuldade de concentração durante as aulas.

b. Crie responsabilidades individuais

Para Mauro Fisberg, o resultado é compreensível, já que essa faixa etária, de adolescentes, tende a ser mais independente do controle dos pais em relação à alimentação. “É realmente muito positivo cultivar o hábito desde os primeiros anos, pois isso tende a facilitar uma postura saudável nas outras fases”, diz.

c. Explore o sentimento de culpa

De acordo com a nutricionista Silvia Cozzolino, é bom lembrar que a variação do cardápio, além de contribuir para uma refeição mais equilibrada e nutritiva, permite que a criança tenha mais opções no futuro, quando tiver que fazer suas próprias escolhas.

d. Dilua seu produto no meio da maré de informações

O café da manhã com cereais matinais pode ser uma opção prática, saborosa e nutritiva. Sua combinação com frutas e leite estimula o consumo de cálcio, vitaminas e minerais.

e. Confunda publicidade com ciência

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3.
Forje uma especialidade que não existe: “Especialista em café da manhã”. Muitos jornalistas procuram fontes usando o Google e, assim, aumenta muito a chance de que a sua fonte seja a mais recorrente.

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4.
Crie uma campanha com o público-alvo desejado. Mães são a aposta mais comum da indústria de ultraprocessados pela capacidade de mudar os hábitos de toda a família.



a. Coloque especialistas para dialogar com grupos-chave

Bocado [Mauro Fisberg, nutrólogo e pediatra, em encontro com mães promovido pela campanha Café da Manhã é Mais do que Você Imagina, da Nestlé]

b. Contrate atrizes que criem laços de identidade, proximidade e afeto com o público-alvo

Bocado [Atriz Débora Bloch em encontro com mães promovido pela campanha Café da Manhã é Mais do que Você Imagina, da Nestlé]

5.
Consiga um espaço para o pesquisador em programas de televisão, redes sociais, páginas jornalísticas



a. Crie uma cena cativante

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b. Complique a mensagem: fale em nutrientes, porque isso tira o poder de decisão das pessoas

c. Plante a ideia de que nutrição é uma espécie de checklist e que a falta de um nutriente te coloca em risco

6.
Disfarce a mensagem: as pessoas aceitarão melhor uma recomendação que pareça científica. Sugira nutrientes, e não produtos



a. O jaleco branco ajuda a transmitir neutralidade e hierarquia

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b. Pão de forma, bisnaguinha e bolacha água e sal: três clássicos que se colocaram entre os falsos saudáveis graças a muita pesquisa científica e publicidade

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c. Adapte a mensagem ao público-alvo: para crianças, não fale em nutrientes, mas em energia

d. A indústria de lácteos é genial na utilização do cálcio e da força como combustíveis para a manipulação de evidências científicas

e. Um breve close no produto da patrocinadora

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f. Comemore os resultados

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